Segundo o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), 9,3% dos brasileiros possuem o hábito de fumar. Por mais que esse número venha caindo (em 2008, a mesma pesquisa apontou que 16,2% dos brasileiros fumavam) graças a iniciativas públicas e privadas aumentando a conscientização sobre as consequências do tabagismo e outras ações, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
No cenário global, a OMS afirma que, em 2018, existiam 1,1 bilhão de fumantes no planeta. Isso mostra que a luta contra o tabagismo é global, exigindo esforços pessoais, coletivos, nacionais e internacionais.
Para vencer a batalha contra o tabagismo, a primeira coisa a se fazer é entender exatamente o que é e como funciona, assim como as formas de se livrar dele. Separamos um guia completo com tudo o que você precisa saber sobre o assunto. Continue a leitura para entender!
O que é tabagismo?
O tabagismo é a dependência física e/ou psicológica do consumo de nicotina. Essa substância está presente, principalmente, no tabaco e, consequentemente, no cigarro.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 428 brasileiros morrem a cada dia por conta de consequências do tabagismo. Além disso, o lado financeiro também impressiona: é estimado que a queda de produtividade e despesas médicas causadas pelo tabagismo somam cerca de R$ 56,9 bilhões por ano.
Para determinar o nível de tabagismo, o método mais utilizado é o teste de Fagerström. Com seis perguntas, ele é amplamente utilizado por profissionais de saúde, governos e instituições. Faça o teste:
É importante notar que o teste é apenas uma ferramenta rápida para analisar seus hábitos de consumo. Ele não é definitivo e, para um diagnóstico completo, a melhor saída é se consultar com um médico de sua confiança.
Muitos pensam que a dependência da nicotina e, consequentemente, o tabagismo, acontecem apenas com o consumo do cigarro industrializado. Porém, essa não é a verdade — qualquer produto com nicotina pode causar dependência. Isso inclui cigarros de ervas com tabaco, charutos, cigarros de palha, fumo de corda, narguilé e até os cigarros eletrônicos, que são vendidos como uma “solução” para quem quer parar de fumar.
Tipos de tabagismo
Nem todo tabagismo é igual, e os tipos vão além da clássica divisão entre fumantes ativos e passivos. Confira detalhes sobre todos:
Fumantes ativos
É aquela pessoa que, ativamente, fuma. Com níveis diferentes de dependência e hábitos que se diferem bastante, apenas essa categoria não é o suficiente para analisar a relação dos fumantes com o cigarro. Por isso, foram criadas subcategorias do tabagismo ativo:
Fumante ocasional
Não sente fissuras ou abstinência. Fuma em situações pontuais, como festas, no mesmo estilo de quem bebe socialmente. É importante notar que mesmo fumar de vez em quando faz mal, e o fumante ocasional corre o risco de desenvolver o hábito mesmo assim.
Fumante habitual
É aquele fumante que absorveu o consumo de cigarro em sua rotina. Ele sente falta do fumo quando pratica certos hábitos, como dirigir, beber, em determinados locais, em pausas do trabalho, etc.
Fumante habitual é aquele que fuma em situações específicas, como em pausas de trabalho, ao dirigir ou ao tomar café.
Fumante em estresse
É quem usa o cigarro como uma forma de diminuir o estresse. Costuma ter cigarros em casa ou no trabalho, mas fuma apenas em dias difíceis, em casos de crises emocionais e traumas.
Fumante aditivo
O fumante que possui dependência química, ou seja, sente abstinência física e psicológica quando não fuma.
Independentemente da categoria, todos os tipos de tabagismo ativo fazem mal e precisam ser tratados.
Fumantes passivos
Os fumantes passivos são aqueles que não fumam e nem sentem desejo de fumar, porém são expostos à fumaça do cigarro, principalmente em ambientes fechados. Normalmente, entram nessa categoria a família ou as pessoas que dividem residência com um fumante.
Por mais que possa parecer nada muito sério, a exposição à fumaça do cigarro traz sérios riscos à saúde, como o câncer de pulmão. Segundo a OMS, os fumantes passivos têm 30% mais chances de desenvolver a doença do que pessoas que não possuem contato com a fumaça.
Fumantes de terceira mão
Essa categoria é conceituada por pessoas que entram em contato com locais e objetos contaminados pela fumaça do tabaco, mesmo horas ou dias depois de o cigarro ser apagado.
Ainda não existem muitas pesquisas que comprovem os malefícios desse contato, porém todo cuidado é pouco.
Principais consequências
As consequências do tabagismo vão muito além do câncer de pulmão, que é o resultado mortal do hábito de fumar mais conhecido.
Problemas cardiovasculares também figuram entre as consequências mais sérias. Fumantes possuem até três vezes mais chances de sofrerem infartos do miocárdio.
A hipertensão é outra consequência do tabagismo. Nesse caso, ela é causada pelas catecolaminas, substância cuja produção é estimulada pelo hábito de fumar e que contrai os vasos sanguíneos.
Doenças do trato respiratório são comuns em fumantes. Entre todas, pode-se destacar a bronquite, enfisema pulmonar, asma e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, conhecida também como DPOC, que é uma junção de diversos problemas respiratórios que bloqueiam a transmissão do ar para os pulmões.
Os aneurismas cerebrais também aparecem na lista. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo, dois a cada três aneurismas estão ligados ao tabagismo.
O tabagismo é responsável por uma série de doenças.
As úlceras na pele podem ser relacionadas ao tabagismo, pois fumar diminui a produção natural de colágeno e outras substâncias que protegem a pele, deixando-a mais desprotegida.
Úlceras gástricas também são consequências sérias, pois fumar enfraquece o músculo responsável por bloquear o contato de ácidos com o esôfago.
Fumantes sofrem maior risco de contrair catarata, osteoporose e trombose. Mulheres que fumam podem ter a menopausa antes dos 40 anos, visto que o cigarro pode ocasionar a falência ovariana, enquanto homens podem sofrer com disfunção erétil. O tabagismo também pode causar a infertilidade em todos os gêneros.
Além de consequências sérias para a saúde, o tabagismo afeta a estética. Envelhecimento precoce, amarelamento dos dentes e dedos são apenas algumas das consequências. Até o brilho e a força dos cabelos são impactados.
Câncer e o tabagismo
O tabagismo pode influenciar no surgimento de diversos tipos de câncer. São eles:
- Câncer de pulmão: o cigarro é causador de 90% dos casos da doença.
- Câncer de boca: o tabagismo causa 95% dos casos.
- Câncer de laringe: segundo o Inca, 80% dos acometidos pela doença têm histórico com cigarro e álcool.
- Câncer de bexiga: o fumo é responsável por 70% dos tumores.
- Câncer de colo de útero e ovário: estudo da Icesp mostrou que 27% das mulheres com algum dos dois tipos de câncer faziam consumo regular de cigarro e álcool.
- Câncer de fígado: além dele, o tabagismo também piora quadros de cirrose biliar primária.
- Câncer de rim: fumantes possuem de 2 a 3 vezes mais chances de contrair esse tipo de câncer.
- Câncer de pâncreas: cerca de 28% dos casos têm ligação com o cigarro.
- Câncer de esôfago: fumantes correm 44 vezes mais risco de contrair.
- Câncer de estômago: sua incidência dobra em fumantes.
- Câncer de faringe: fumantes possuem o dobro de chance de contrair a doença.
Formas de tratamento
Com todas as consequências apresentadas, é fácil chegar na conclusão que a melhor decisão que um fumante pode tomar é a de parar de fumar. Porém, esse é um daqueles casos em que falar é muito mais fácil do que fazer. Afinal, quando se trata de um vício como o tabagismo, o esforço para superá-lo deve envolver diversos âmbitos
O tratamento do tabagismo é feito com base no auxílio psicológico, médico e social.
É sempre recomendado o suporte de um profissional da Psicologia durante e depois do processo. Ele vai auxiliar no entendimento das raízes do vício, na identificação do que atrapalha e no suporte emocional para as mudanças que acontecem.
Já o tratamento médico é feito de acordo com a necessidade do paciente. Em alguns casos, remédios como o cloridrato de bupropiona são recomendados, pois ajudam a diminuir os sintomas de ansiedade comuns durante o processo para parar de vez. É possível que o tratamento também envolva adesivos e gomas de nicotina, que auxiliam a controlar as fissuras sem ceder ao cigarro.

É importante notar que todos os medicamentos recomendados para o tratamento de tabagismo são receitados de forma temporária e como um suporte. Afinal, esse auxílio é apenas uma das partes do tratamento.
O aspecto social pode ser o mais difícil ou fácil, dependendo do caso. Essa parte exige a ajuda dos ambientes em que você convive e de familiares e amigos. A principal coisa a se fazer é evitar ao máximo ficar em locais em que outras pessoas fumam ou que se relacionam ao cigarro, como bares e baladas.
O Sistema Único de Saúde conta com um programa de tratamento gratuito. Para saber mais sobre, procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) do seu bairro, ou ligue gratuitamente para 136.
Técnicas para parar de fumar
Quando fala-se em parar de fumar, existem três grandes técnicas, sendo que um profissional pode te ajudar a identificar qual é a melhor para você.
A parada súbita é quando não há uma redução gradativa do hábito, e o consumo de tabaco é interrompido de uma vez. Esse caminho começa na escolha do dia para parar e uma verdadeira limpeza. Remover todos os cigarros e produtos relacionados dos ambientes frequentados para, assim, diminuir a facilidade de acesso.
Como principal benefício, ela faz com que a abstinência forte dure menos e os resultados sejam visíveis mais rapidamente. Porém, o método é o mais difícil, sendo comum a recaída. Se isso acontecer, não desanime! Procure repetir a tentativa ou trocar o método.
A parada gradual consiste no esforço para reduzir a quantidade diária de cigarros ao longo de um determinado período, como 30 ou 60 dias. Reduza gradativamente, até que chegue no dia marcado para não fumar nunca mais.

O lado positivo do método está na mudança mais confortável. Ela faz com que o corpo se acostume de pouco em pouco à falta da nicotina. Porém, a desvantagem é que os efeitos de abstinência podem durar mais tempo.
O método de adiamento consiste em adiar o primeiro cigarro do dia, como por duas horas. Com essa técnica, por exemplo, alguém que fuma pela primeira vez no dia às 7h deve adiar esse cigarro para as 9h, até que o primeiro do dia seja no horário de dormir. As vantagens e desvantagens são parecidas com a da parada gradual, porém esse método acaba atacando o cigarro que a maioria dos fumantes possui a maior dificuldade de abrir mão: o primeiro do dia.
Abstinência
Como a nicotina é uma substância que vicia, o corpo “reclama” quando sente falta dela. Ansiedade, insônia, estresse, irritabilidade, agressividade, entre outros sintomas, mostram que o corpo está pedindo mais nicotina. Porém, é importante que a pessoa tente ao máximo controlar essa fissura, que dificilmente se prolonga por mais do que alguns minutos.
Os primeiros dias são os mais difíceis. Com o tempo, o desejo diminui cada vez mais, o que facilita a manutenção da vida sem tabaco. É importante notar que, em alguns casos, a fissura nunca vai embora totalmente, porém os benefícios são mais fortes do que essa vontade!
Benefícios de parar de fumar
Os benefícios de parar de fumar são muitos. Quanto mais tempo uma pessoa passa sem fumar, combinando com a adoção de bons hábitos, mais ela se sentirá saudável e motivada para manter-se longe do cigarro. Confira o que acontece com o corpo quando alguém decide se livrar do fumo:
- Em 20 minutos: a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.
- Em 2 horas: quase toda a nicotina deixa de circular no sangue.
- Após 8 horas: o nível de oxigênio no sangue é normalizado.
- Após 12 a 24 horas: os pulmões já funcionam significantemente melhor.
- Em dois dias: o olfato e o paladar começam a se recuperar, sentindo melhor aromas e sabores.
- Em três semanas: a respiração melhora significantemente, também melhorando a circulação.
- Depois de um ano: o risco de morte por infarto do miocárdio cai pela metade.
- Depois de 10 anos: o risco de infarto se iguala ao de uma pessoa que nunca fumou.
Parar de fumar é um esforço que exige força de vontade e ajuda das pessoas em volta. Para mais informações sobre saúde, assine a nossa newsletter! Para isso, é só preencher o formulário abaixo.