Em 2016, o Brasil havia conquistado o certificado de erradicação do sarampo. Porém, em 2018, dois casos da doença foram confirmados na Amazônia, e em pouco tempo diversos focos foram encontrados em diferentes regiões do país. Ao todo, a cidade de São Paulo concentrou a maior parte dos casos, e os Estados do Rio de Janeiro e da Bahia também confirmaram diversas pessoas acometidas da doença.
Por conta dessa situação alarmante, as campanhas contra a doença voltaram com toda a força. Todo cuidado é pouco, sendo muito importante entender o que é sarampo, como funciona a contração e a prevenção.
Para ajudar a entender tudo o que é preciso saber sobre a doença, entrevistamos a médica Paloma Solano, especialista em medicina humanizada. Continue a leitura para conferir!
O que é sarampo?
O sarampo é uma doença bastante grave, que pode levar à morte. É causada por um vírus e seu grau de transmissão é alto, passando por vias aéreas. O maior perigo de contaminação é na fase mais crítica da doença, caracterizada por mal-estar extremo e febre alta.
Segundo a médica, o contágio ocorre por respiração, espirros, tosses e beijos. “O vírus fica vivo até uma hora no ambiente que a pessoa com sarampo esteve presente, logo não é obrigatório contato íntimo para sua transmissão”, explica.
A doença é caracterizada pelas manchas vermelhas pelo corpo, e suas complicações são sérias.
Segundo o Ministério da Saúde, a pneumonia atinge 1 a cada 20 crianças com sarampo, sendo a causa principal de morte de pequenos com a doença. A pneumonia também é uma complicação comum em adultos.
Infecções de ouvido graves, chamadas de otite média aguda, acometem 1 a cada 10 crianças com sarampo, podendo ter como complicação a perda auditiva permanente. Outro efeito da doença é a encefalite aguda, que atinge cerca de uma criança a cada mil com sarampo, sendo que 10% delas morrem.
A pneumonia é a complicação do sarampo mais mortal em crianças.
As complicações oriundas do sarampo matam entre uma e três crianças a cada mil.
Gestantes que contraem o sarampo podem ter o parto prematuro, e o recém-nascido corre o risco de ter peso baixo. A vacina não pode ser tomada durante a gravidez, por isso, é importante vacinar-se antes de tentar ter um bebê.
Os problemas causados pelo sarampo não acabam quando a doença passa. Entre as consequências permanentes, vale ressaltar deficiência auditiva e/ou visual, retardo do crescimento e redução da capacidade mental.
Principais sintomas do sarampo
Paloma faz um alerta sobre os sintomas para ficar de olho. “As manchas vermelhas começam na cabeça, atrás das orelhas, avançando para o rosto e, em seguida, se espalhando por todo o corpo.” Essas manchas costumam aparecer entre três e cinco dias depois da infecção.
Ela também informa que “sintomas como tosse seca, conjuntivite, manchas brancas na mucosa bucal, lacrimejamento, febre alta, fraqueza e falta de apetite podem ser sinais do sarampo”. Dores no corpo, principalmente de origem muscular, inchaço dos gânglios, irritações nos olhos e sensibilidade da luz são outros sintomas que não podem ser ignorados.
Caso você ou alguém da família apresente qualquer desses sintomas, é imprescindível buscar por auxílio médico o mais rápido que seja possível.
Prevenção do sarampo
A prevenção do sarampo é de extrema importância, tanto para se proteger contra a doença quanto para evitar surtos e epidemias.
A principal forma de prevenção é a vacina, que é distribuída gratuitamente em mais de 36 mil salas de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS) e é completamente segura para o uso, salvo casos específicos.
A médica explica que a primeira dose ser tomada com 12 meses de vida, com reforço aos 15 meses. “Quem comprova a realização das duas doses da vacina no cartão de vacinação não precisa mais se vacinar e nem de reforço”, afirma. Em estados críticos, é também oferecida a chamada dose zero, uma vacinação extra realizada entre os 6 e 12 meses de idade.

Para quem não sabe ou perdeu a carteira de vacinação, é recomendado procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima e realizar a imunização. Pessoas de até 29 anos que se encaixam nesse grupo devem tomar duas vezes, enquanto entre 30 e 49 basta receber uma dose. Não há risco em repetir a dose, por isso, na dúvida, é sempre melhor tomar novamente.
É importante notar que, quando acontece um surto da doença, as recomendações de imunização podem variar. Nesses casos, a indicação é se informar em uma UBS ou sala de vacinação da sua região.
São três as vacinas que oferecem proteção ao sarampo:
- Dupla viral: imuniza contra o sarampo e rubéola;
- Tríplice viral: oferece proteção contra o sarampo, rubéola e caxumba;
- Tetra viral: protege contra o sarampo, rubéola, caxumba e varicela (catapora)
Contraindicações
Nem todas as pessoas podem se imunizar contra a doença, pois existem contraindicações da vacina do sarampo. Ela é feita com o vírus vivo e atenuado e, por mais que as chances de alguém desenvolver a doença seja baixíssimo, quem possui o sistema imunológico fraco correm esse risco.
Paloma explica que gestantes não devem tomar a vacina, e é recomendado engravidar apenas 30 dias depois de se imunizar. “Também pessoas fazendo quimioterapia, com transplante de medula óssea, que fazem uso de corticóides em doses imunossupressoras e portadores de HIV em estágios graves não devem tomar a vacina”, alerta.
Em situações de alto risco, as regras podem mudar. Pessoas que fazem o uso de imunossupressores, por exemplo, podem ser orientadas a suspender o uso temporariamente para realizar a imunização. Seja qual for o caso, nunca interrompa nenhuma forma de tratamento médico ou tome a vacina, mesmo estando em grupos de risco, sem recomendação expressa de um médico de sua confiança.
As vacinas podem conter traços do ovo de galinha. Alérgicos devem conversar com seus médicos para conferir qual é o melhor caminho a seguir. Há uma versão da vacina que possui traços da proteína do leite de vaca – essa não deve ser ministrada a crianças com alergia grave a essa substância, pois correm risco de reações imediatas, como a anafilaxia.
Essas contraindicações mostram a importância da população em geral se vacinar. Afinal, além de proteger a si mesmo, esse ato protege as pessoas em sua volta que não podem se imunizar.
Outras formas de prevenção
Para quem não pode ser vacinado, resta se prevenir de outras formas, mesmo que a segurança dependa diretamente da vacinação de pessoas de seu convívio.
Paloma aponta que atos como “lavar as mãos com sabão ou álcool em gel, evitar locais fechados e com ar-condicionado e não compartilhar itens de uso pessoal são boas práticas para amenizar as chances de contágio”.
Tratamentos
É importante saber que não existe um tratamento que combata diretamente o sarampo. Ao invés disso, a médica explica que os tratamentos são feitos para amenizar os sintomas da doença.

“Repouso, hidratação, remédios para dores e para febre, e manter uma alimentação de qualidade são alguns dos tratamentos oferecidos”, explica. A falta de medicação específica para a doença reforça, mais uma vez, a extrema importância da imunização.”
Dúvidas frequentes sobre o sarampo
A vacina é segura?
Existem grupos antivacina que divulgam informações errôneas, como a de que há uma ligação entre a vacina com o autismo em crianças. Porém, é importante saber que essa informação é falsa, pois não há nenhuma prova dessa ligação.
Para pessoas que não se enquadram nos grupos de risco, a vacina é segura. Existe uma chance baixíssima de reação alérgica, principalmente na primeira dose. Reações simples e sem risco podem acontecer, como vermelhidão e inchaço no local, mas elas acontecem em menos de 5% dos casos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
A SBim também afirma que entre 5% e 15% das pessoas podem desenvolver sintomas leves da doença, em caso de vacinas com vírus atenuado. Quando isso acontece, é recomendado procurar por auxílio médico, mas é importante saber que tais sintomas costumam desaparecer em alguns dias.
O quão grave é o surto de sarampo?
Segundo a OMS, o surto de sarampo é global e é o maior que aconteceu desde 2006. De janeiro a julho de 2019, foram confirmados mais de 364 mil casos da doença, atingindo 189 países. Esse número é quase o triplo de ocorrências em 2018 no mesmo período, quando foram notificados cerca de 129 mil casos.

A instituição também alerta que menos de 1 a cada 10 casos é notificada, por isso, o número tende a ser bem maior.
Por que o sarampo voltou?
Por mais que o Brasil tenha adquirido o certificado de erradicação do sarampo em 2016, o vírus nunca foi erradicado no mundo inteiro. Então, infectologistas já se preparavam na prevenção e campanhas para uma possível volta da doença no país.
Esse fato mostra o quão importante é a imunização, mesmo em regiões que não registram casos há bastante tempo. Principalmente em cidades com alta densidade urbana, basta uma confirmação para que a doença volte a se alastrar.
Quem sofre mais risco?
O sarampo é uma doença com potencial mortal em todas as faixas etárias. Porém, crianças com menos de 1 ano, gestantes, jovens adultos e pessoas imunodeprimidas podem apresentar quadros mais sérios.
Já tive sarampo, preciso tomar a vacina?
Quem já teve sarampo não precisa tomar a vacina de imunização. Porém, vale a pena fazer exames para garantir que a doença era realmente essa, para evitar correr riscos.
Quais países e regiões estão mais suscetíveis à doença?
Ainda segundo a OMS, os casos no continente africano aumentaram mais de 900%, sendo que Angola, Camarões e Nigéria concentram a maioria. Tailândia, Filipinas, Cazaquistão e Sudão também entram na lista de risco, por isso, não esqueça de tomar a vacina caso planeje visitar alguma dessas regiões.
Os brasileiros são devidamente imunizados?
Estima-se que aproximadamente 79% do público-alvo das vacinas é imunizado contra o vírus do sarampo. Por mais que o número pareça alto, ainda está aquém do ideal: para evitar surtos, a recomendação é imunizar, no mínimo, 95% da população.
Como identificar a vacina na carteira?
Na carteirinha de vacinação, não existirá uma dose com o nome “sarampo”. Ao invés disso, as imunizações aparecem como SRC (sarampo, rubéola e caxumba), DV (dupla viral), TV (tríplice viral), MMR (measles, mumps, rubella), entre outros relativos.
Em caso de dúvida, procure a UBS da sua região, com a carteirinha em mãos. Os profissionais poderão lhe ajudar a entender os símbolos.
Existem diferenças entre as vacinas disponibilizadas pela rede pública e aquelas da rede privada?
Podem existir diferenças de lotes e fabricantes. Porém, isso não significa que uma é mais efetiva que a outra – não há nada que indique diferença de eficácia.
Quais são os riscos do sarampo para grávidas?
Além dos riscos para a própria saúde, o sarampo durante a gravidez é muito prejudicial ao feto. No início da gestação, o maior risco é de aborto; em meados da gravidez, corre-se o risco de parto prematuro, enquanto no estágio final pode ocasionar graves infecções no recém-nascido.
Perdi minha carteirinha de vacinação, e agora?
Não é necessário estar com a carteira de imunização para ser vacinado, por mais que seja recomendado portá-la. Nessas situações, é indicado comparecer a um posto de vacinação e verificar se há dados digitais das suas imunizações.
Caso não esteja e não faça parte dos grupos de risco, a recomendação é sempre vacinar-se para garantir a proteção. Lembre-se que a vacina é gratuita!
O sarampo é uma doença perigosa e exige a união da população em busca da imunização de todo o público-alvo. Dessa forma, você estará se protegendo e aumentando a segurança de crianças e outros grupos que não podem ser vacinados.
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